Possibilidade de História Pública com a série "Como ser um carioca"

 

Neste pequeno ensaio pretendo pensar a relação da invenção “do povo” com a série How to be a Carioca[1], lançada em 2023 pela plataforma de streaming Star+.


A construção de um povo só, único, utiliza-se das ferramentas apesentadas e fornecidas pela indústria cultural, fazendo valer a cultura de massa. “Uma nação” não é uma coisa que sempre existiu, mas que está dentro de balizas espaço-temporais, apresentadas a partir dos séculos XVIII e XIX com as revoluções liberais burguesas e a busca pelas identidades nacionais para dar ligação, harmonia e pertencimento para as novas sociedades. O nacionalismo, como doutrina, busca construir unidade (pátria) através do estabelecimento de identidade que cria o sentimento de pertencimento. A nação brasileira, por exemplo, foi forjada e construída. Na década de 1930 aqueles que se dedicaram a pensar o Brasil e o seu povo decidiram “virar as costas para a Europa e olhar para o interior profundo do Brasil”, conforme havia advertido Euclides da Cunha. Era preciso construir a nação brasileira levando em consideração as suas peculiaridades, mostrando o Brasil “como ele é”, ou mostrando o que cada parte sua era. 

O processo de fixação sobre o que é o Brasil, ou aquilo que ele foi escolhido para ser, aconteceu com a junção de intelectuais da literatura, pintura, artes plásticas que firmaram “o que era” cada região do território brasileiro. Enquanto escreviam e pintavam sobre as regiões, ajudavam a fixa-las de acordo com essas representações. Diante desse processo, as regiões naturais são transformadas em regiões culturais, firmando povos e fixando um Brasil ao determinar a territorialização das identidades e dos povos. Artes plásticas, literatura e cinema se articularam construindo a simbologia bem como a fixação das regiões do Brasil. Conscientemente ou não criaram símbolos, ícones e imagens das regiões que tratavam.

As universidades abertas no Brasil na década de 1930 trouxeram cursos das ciências humanas como História, Geografia, Sociologia, Antropologia que ajudaram na interpretação e divulgação do Brasil e do passado Brasileiro, contribuindo para a concretização daquilo que estava se estabelecendo como como a identidade brasileira. Produções iconográficas sobre o Brasil, por exemplo, ajudam a desenhar e compor o retrato do que é o Brasil e o brasileiro. O pensamento do Brasil sobre ele mesmo é marcado pelo viés naturalista (o Brasil é assim) e não pelo viés sociológico (o Brasil é uma construção social e histórica). O processo para criar uma identidade regional é parecido com o processo para construção de uma identidade nacional, portanto, vou apresentar as ideias de Ernest Renan, Anne-Marie Thiesse e Benedict Anderson para podermos entender e refletir um pouco sobre a fixação da identidade do carioca.

Renan (1882) fez uma primeira tentativa mais conceitual sobre o que é uma nação. A cultura visual contribui para o desenvolvimento de uma cultura de massa e, no caso do Brasil, nas décadas de 1930, 1940 e 1950 tínhamos a indústria editorial, trabalhando dentro do processo de fazer o Brasil ser reconhecido através da criação de uma unidade identitária (nação). Pela indústria cultural, o Brasil foi se mostrando para os brasileiros. Os séculos XIX e XX, após as transformações burguesas nas sociedades, carecia de uma unidade que anteriormente era ofertada pelos reis. Os súditos se tornaram cidadãos, a partir daí era necessário criar “uma nação” para devolver a identidade nacional dos sujeitos.


           O passado nacional, da nação, reflete um momento homogeneizante que procura algo em comum para o todo, promovendo a suplantação da heterogeneidade para criar um povo comum que esqueceram suas diferenças. Para Renan (1882), o artifício inventado, ficcionado e imaginado da nação, pressupõe a homogeneização para que “todos sejam irmãos” na geração da comunhão em que todos são comuns, pois o “passado em comum” despreza as particularidades. Portanto, o autor entende que o que gera a unidade a todos é o sentimento, no qual “[...] o homem fornece a alma. O homem está inteiro na formação do povo [...], uma nação é um princípio espiritual” e resulta de complicações profundas na história. Dessa forma, vivemos juntos porque imaginamos ser idênticos uns aos outros, temos o sentimento de pertença a um lugar que se partilha com todos.

Na concepção de Thiesse (2002), a nação tem um movimento histórico, estabelecendo-se como uma construção, um constructo para estabelecer uma nova identidade a partir das revoluções burguesas do século XVIII/XIX, no qual o súdito passou para cidadão criando a necessidade de uma nova unidade identitária. Um povo com um passado em comum é construído através da homogeneização, criação e imaginação. A unidade identitária precisa ser formada, sendo absorvida da cultura de massa através de seu trabalho pedagógico. Para Anderson (2008), a nacionalidade (condição nacional) e o nacionalismo são produtos culturais específicos. Possuem origens históricas de “cruzamentos” complexos de forças históricas. Para ter/criar uma nação, é necessário forjar a ideia de que existe um povo com algo em comum, criando uma identidade que será nacional (temporalmente estabelecida do século XVIII em diante). Podemos pensar essas questões quando observamos o personagem Zé Carioca.

Segundo Vicente Saul Moreira dos Santos (2010), “durante as décadas de 1930 e 1940, uma série de composições foram responsáveis por ‘projetar a autoimagem do carioca como imagem do brasileiro’ (CARVALHO, 2004, p. 28)” principalmente por canções como Cidade maravilhosa, de André Filho (1934); Primavera no Rio, de João de Barro (1935); o samba Canta Brasil, de Alcir Pires Vermelho e David Nasser (1941) e a canção Rio de Janeiro (Isto é o meu Brasil), de Ary Barroso (1944). Na década de 1950, a música urbana carioca, o samba, como expressão da brasilidade foi defendida pela Revista de Música Popular (1954-1956) (SANTOS, 2010). A década de 1960 foi marcada por debates e reflexões sobre identidades, lugares sociais, memórias culturais no cenário nacional, período em que o campo musical passou por mudanças, como a ampliação do público ouvinte, a divulgação proporcionada pela televisão, o êxito dos festivais e os lançamentos de discos que ao divulgarem “antigos” compositores e novas composições, atuaram na consolidação de um padrão cultural (SANTOS, 2010).

Olivier Nicolas Ronald François Bodart (2019) em seus trabalhou buscou entender como as características do personagem Zé Carioca transformou-se em símbolos da identidade brasileira e suas ações em um símbolo da cultura nacional pronto para ser exportado fora do Brasil aos fins pragmáticos da Política de Boa Vizinhança dos Estados Unidos. Essa influência da indústria cultural americana nos países latino-americanos foi consolidada no período pós-guerra (MASSAGLI, 2018). Walt Disney, ou seja, o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt, apresentou um Brasil pacífico, cooperante, sofisticado, branqueado, educado, amigável e simpático.

A fim de criar seu novo personagem com toque brasileiro, a equipe criativa de WD ficou algumas semanas no Rio de Janeiro para captar a essência da identidade brasileira. Ao longo desta estadia, a concepção do Brasil oriunda dos criativos americanos foi claramente influenciada pelo contexto social, político e cultural da época. Isso pode justificar-se pelo fato que a delegação americana recebeu vários convites do meio intelectual e político a fim de introduzir-la ao Brasil. [...] Na década de 40, a cidade do Rio de Janeiro era a capital oficial do Brasil e consequentemente a maior parte de sua população era composta da elite brasileira. Além de Walt Disney ter sido influenciado pelas autoridades locais, as finalidades deste projeto eram também influenciadas por um projeto político mais amplo. Como diz o ditado popular: “a primeira impressão é a que fica!”. Isto é certamente o que foi elaborado na concepção da identidade do Zé Carioca em 1941; novo personagem que, alguns meses depois, estrelou nas telas de televisão do povo americano (BODART, 2019).

O papagaio tinha a responsabilidade de introduzir e vincular a identidade e a cultura brasileira nos Estados Unidos. Zé Carioca tornou-se a concepção americana da identidade do povo brasileiro. O papagaio brasileiro apareceu como uma personagem bem inofensiva, um tipo de “bon-vivant”, de malandro que gosta de aproveitar os prazeres que oferecem a cultura brasileira como dançar o samba, ouvir e tocar música, beber uma cachaça ou fumar um charuto. [...] Ele foi descrito como uma figura simpática, acolhedora e calorosa. Desde o primeiro encontro com Pato Donald, Zé Carioca acolheu-o como um amigo antigo e compartilhou com ele os segredos da cultura brasileira, que sejam no Rio de Janeiro ou na Bahia. Além de saber receber visita de fora, o papagaio também foi representado como uma pessoa caracterizada com boas maneiras e uma excelente educação (BODART, 2019). O Zé Carioca tornou-se personalidade símbolo de um “jeito de ser” reproduzido “para dentro e para fora” do país (PEREIRA; BARROS, 2013).

O “carioca típico” levantado na pesquisa teria as seguintes características: “alegre”, “jovial”, “informal”, “despojado”, “de bem com a vida”, “simpático” e “sociável”. A este perfil de um “povo especial/único”, se somaria a percepção do Rio de Janeiro como uma “cidade especial/única”, onde se coloca uma ênfase nas belezas naturais “ímpares” ali presentes. “Ser carioca”, assim, aparece como um “estado de espírito” que pode ser vivenciado mesmo por quem não tenha nascido na cidade, mas more nela e compartilhe de seu estilo de vida (PEREIRA; BARROS, 2013).

Para Kristian Sgorla (2016) os traços mais marcantes do papagaio são a malandragem, o bom humor e a hospitalidade, características do povo brasileiro reconhecidas    internacionalmente, o homem cordial de Sérgio Buarque de Hollanda (1996). Considera Sgorla (2016) que Zé Carioca harmoniza os conceitos de cordialidade e malandragem. Não como uma contradição, mas como uma condição inerente à sua personalidade. Sua cordialidade atenua a malandragem e evita que ele se torne o vilão. Sérgio Roberto Massagli (2018) demonstra que o personagem Zé Carioca foi construído “a partir de um estereótipo, aquele malandro carioca das primeiras décadas do século XX, uma figura marginal, normalmente um negro ou mestiço, avesso ao trabalho, que vivia de expedientes, cultuava a vadiagem, a capoeira e o samba”.

O culto da homogeneização que persiste na cultura brasileira, aliada ao advento da indústria cultural ou da cultura de massa, “foi desastroso para o processo de formação de uma identidade brasileira, na medida em que não se levaram em conta as ambiguidades dos fenômenos culturais” (MASSAGLI, 2018). A partir desses aspectos apontados sobre o personagem Zé Carioca, podemos analisar brevemente o seriado How to be a Carioca, na qual “cinco estrangeiros aprendem com um autêntico carioca a resolver problemas de um jeitinho único!”.

Estrelada por Seu Jorge, Mariana Canhisares explica que a série acompanha as histórias de cinco estrangeiros que, por uma razão ou por outra, vieram parar no Rio de Janeiro. Conforme tentam resolver seus problemas pessoais e descobrem a pluralidade da cidade, seus caminhos se cruzam com um sujeito especial, que vai ensiná-los a perspectiva única do carioca, seja sobre religião, improviso ou preconceitos. Eles experimentam o Rio de diversas formas e tentam se adaptar à cultura local. Conforme a sinopse apresentada na plataforma de streaming, Irene da Argentina (episódio 1), Matthias da Alemanha (episódio 2), Nabil da Síria (episódio 3), Laila de Israel (episódio 4) e Karima de Angola (episódio 5) visitam o Rio de Janeiro por diferentes motivos. Cada um a seu modo, eles vivenciam a beleza e o caos da cidade maravilhosa. Eles conhecem um sujeito especial que os ajuda a resolver os problemas de um jeitinho único: esse cara é Francisco, um carioca por excelência. No processo, desfazem-se de preconceitos, abrem-se para novas culturas, adotam perspectivas diferentes e ajudam a cidade a ser mais inclusiva e menos desigual.

A abertura da série traz como trilha sonora o cantor Seu Jorge interpretando a música Rio 40 Graus (1992), de Fausto Borel Cardoso, Carlos Cesar Laufer e Fernanda Sampaio De Abreu, entoando “Capital do sangue quente do Brasil/Capital do sangue quente/Do melhor e do pior do Brasil”. Também são apresentados outros elementos como o Cristo Redentor, a praia de Copa Cabana, o Corcovado, pessoas jogando futevôlei na praia, sorrisos enormes e crianças correndo entre as vielas da favela. No episódio 1, intitulado Argentina, Irene deve realizar o último pedido de sua falecida mãe: jogar as cinzas do alto do Cristo Redentor. No táxi que Irene pega quando chega ao Rio de Janeiro, temos um Cristo Redentor em boneco, marcadamente um elemento fixado como característico da cidade. No onibus que utilizou para ir até o monumento do Cristo Redentor, as pessoas, sorridentes, cantavam e tocavam samba.

Além disso, ganha destaque que durante as trocas de cena, podemos ouvir clássicos do samba, pagode, choro, forró e da bossa nova. Irene foi impedida de jogar as cinzas de sua mãe de cima do Cristo e, ao indagar o guarda religioso (Luiz Henrique) dizendo querendo joga-las pois “son cenizas de mierda”, ele a adverte alegando “como a senhora pode usar um linguajar desse na frente dele?”, apontando para o Cristo. Francisco Nascimento, “consultor de assuntos espirituais, com doutorado em fé carioca”, aparece simpaticamente para ajudar Irene. Para Francisco, o problema de Irene só poderia ser resolvido “ascendendo uma vela para São Judas Tadeu, ou ficando amiga do guarda. Um carioca de verdade faz tudo por um amigo”. Nesse episódio, o carioca é apresentado como religioso sincrético – Luiz Henrique é católico e frequentador do terreiro, amigável e sempre sorridente.

No episódio 2, Alemanha, encena que o maestro Matthias precisa fazer uma apresentação impecável, mas é obrigado a improvisar. Quando chega ao Rio de Janeiro, o maestro Matthias Bonn tem a sua bagagem extraviada. Além disso, o maestro se depara com outros contratempos e, quando estava preste a desistir de sua apresentação, depara-se com Francisco Nascimento, ajudando-o diante de um quase atropelamento. Matthias explicou sua situação para o carioca da gema, que por sua vez advertiu que “no Rio de Janeiro, para você se livrar das roubadas que a cidade te coloca, você precisa de jogo de cintura”, o jeitinho carioca que a produtora Renata Azevedo vinha apresentando ao gringo alemão. Levando as coisas “mais no improviso”. Francisco se apresenta como “formado na escola da vida, com PhD em jeitinho carioca”, no Rio de Janeiro, onde “o relógio corre de um jeito diferente”. Nesse episódio, o carioca é apresentado como aquele preparado para dar um jeitinho nas adversidades apresentadas pela vida, ousado e dançante. O maestro Matthias assume “um novo tipo de carioca” e se vale do jeitinho carioca, trazendo o berimbau e o forró para a obra clássica de Bach.   


            Nabil, refugiado sírio, descobre um jeitinho de ganhar dinheiro nas areias cariocas no episódio 3, Síria. Nabil foi escolhido dentre os seus familiares para sair de seus país natal e vir ao Brasil, trabalhar no Rio de Janeiro -lugar visto como de esperança- para garantir a vinda do restante de sua parentela posteriormente. Nabil se apaixona por Soraya após ela o socorrer de uma insolação e ataque de pânico na praia, enquanto ele vendia quibe. O hospitaleiro carioca Francisco se apresenta para Nabil como especialista em choque cultural, com PhD em praia, ao ajudar o refugiado a se safar dos ficais na praia que queriam confiscar seus salgados. Como um verdadeiro carioca, Francisco demonstrou na prática o que o sírio deveria fazer para se sair bem nas vendas, destacando a entonação vocal e o modo de se vestir. Já Soraya, o ajudou a usar as redes sociais para aumentar o movimento de seu negócio. Soraya, na sua prática de jornalista, discute a objetificação do corpo feminino, alegando que até a década de 1990 “o cartão postal do Rio era a bunda da carioca”. O carioca, nesse episódio, é apresentado como atraente fisicamente, bom negociante, esperançoso e simpático.


                   Representação feita pelo sírio Nabil (How to Be a Carioca, Star+), 2023.

A israelense Laila tem sua câmera furtada e aprende a ser “malandra” de verdade no morro do Vidigal no episódio 4, Israel. Sua intenção era, através de um ensaio fotográfico, “comparar a essência espiritual das pessoas que vivem em um ambiente de guerra, com as pessoas que vivem em liberdade total” e, para ela, “aqueles em liberdade serão representados pelos moradores do Rio de Janeiro”. Mas, segundo sua tia da elite sra. Bacheva, quando Laila questiona sobre a favela do Vidigal, “lá é um lugar perigosíssimo. Aqui, no Rio, Israel é o asfalto e a favela é a Palestina!”. A partir das experiências que Laila tem com sua tia abastada, desde andar em carro blindado até verificar aplicativo de tiroteio, ela começa a questionar se o Rio e os cariocas são mesmos livres.

Quando ela teve sua câmera roubada, decidiu ir até Vidigal, tão criticada por Bacheva, para procurar pelo menino que a havia levado. Francisco, o autêntico carioca, aparece no momento em que a kombi que Laila ia pegar para subir o morro tem problemas mecânicos, ele afirma ser “ex-mototáxi profissional, com doutorado em Vidigal”, lugar onde ele a leva de moto. Lá, a gringa conhece uma realidade diferente da que havia vivenciado na zona Sul ao andar com Silvio em busca de sua câmera, mais próxima da guerra que tanto almejou fugir. Desta vez, o carioca foi mostrado como prestativo, subversivo, honesto, trabalhador e malandro (atrevido), que também resiste em um ambiente de tensão bélica. Silvio e Laila entendem, no fim de sua jornada, que “a arte é a única alternativa para a guerra” que ambos buscavam escapar.

Já no episódio 5, a escritora angolana Karima luta contra o preconceito e busca na arte uma inspiração para o futuro. Enquanto no Rio de Janeiro, após seu esposo ter sido transferido para a presidência da empresa na América Latina, Karima começa a observar as relações étnico-raciais estabelecidas no Brasil, atravessadas principalmente pelo racismo estrutural e velado. Chegando no seu condomínio de residência, Karima se depara com o representante do que é ser carioca, Francisco Nascimento, que para ela se apresenta como “artista resistente, especializado em guerrilha cultural”. Juntos debatem sobre a arte negra e destacam que “para ela aparecer, nós precisamos guerrear. Uma guerra que não se denomina, mas mata tantos humanos, um verdadeiro terror urbano e que ninguém aguenta mais”. Após vivenciar experiências racistas e conhecer uma das faces mais cruéis do Brasil, Karima se desilude com o país optando por retornar para a Angola. O episódio apresentou o carioca como resistente, lutador e dado as artes, enfrentando o racismo e o preconceito.

Por fim, no sexto episódio, denominado Rio de Janeiro, Francisco recebe um convite para ser músico em Lisboa, encontrando um dilema sobre deixar a cidade. Francisco, cantor e tocador, canta para o seu público que

O rio é uma cidade de cidades misturadas

O rio é uma cidade de cidades camufladas

Governos misturados, camuflados, paralelos

Sorrateiros, ocultando comandos

 

De comando, de comando, submundo oficial

Comando de comando, submundo bandidaço

Comando de comando, submundo classe média

Comando de comando, submundo camelô

 

Comando de comando, submáfia manicure

Comando de comando, submáfia de boate

Comando de comando, submundo de madame

Comando de comando, submundo da TV

(CARDOSO; LAUFER; ABREU, 1992).

            Após ser dispensado do lugar em que trabalhava, Francisco foi convidado para se juntar a uma banda de pagode para ir à Lisboa, ele se abala sobre deixar ou continuar no Rio de Janeiro. A partir de então, o legítimo carioca buscou na sua crença auxílio para pensar sobre o seu futuro. Mesmo diante das adversidades que encontrava, fazia amizade com desconhecidos e ia à praia. Nos seus encontros e desencontros, Chico vive suas últimas experiências no Rio de Janeiro. O carioca é representado como alguém que não desiste, fala palavrões, espontâneo, complexo, malandro, com um jeitinho e que sempre está no lugar certo na hora certa. Aquele que gosta de pitaco, petisco e cerveja. Portanto, enquanto concebe o carioca e o Rio de Janeiro, o seriado contribui para a construção e fixação da identidade cultural da região. 

[1] How To Be a Carioca é uma série de comédia brasileira, produzida pela Moovie e Star Original Productions para a The Walt Disney Company. Baseado no livro de mesmo nome de Priscilla Ann Goslin, a série foi criada por Carlos Saldanha, Joana Mariani e Diogo Dahl.

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