Brasil República - comentários sobre os primeiros anos p. II.

 


https://www.preparaenem.com/historia-do-brasil/e-sertao-nao-virou-mar-guerra-canudos.htm

 

O estado na primeira república era formalmente liberal, democrático e representativo,  mas essencialmente era oligárquico, a serviço exclusivo de uma pequena elite, a burguesia  agroexportadora. Campos Sales completou o serviço de Prudente de Moraes: Prudente de  Moraes consolidou o poder político dos paulistas sobre o poder dos jacobinos e Campos Sales  sistematizou essa forma de dominação e superou a contradição entre o poder da União e o poder  dos estados. Campos Sales, que se colocava acima das divisões partidárias, era elitista e  autoritário. 

Para ele consolidar sua política financeira era necessário a articulação de um mecanismo  político para atenuar ou reduzir as oposições a nada. Os chefes da campanha de Sales optaram  pela solução mais coerente com seus hábitos políticos: suborno institucional de jornais. Assim  a imprensa era financiada para expor matérias com falsos debates políticos tramados entre  artigos publicados alternadamente por jornalistas experientes no assunto e também o Congresso  deveria ser dócil aos desígnios do poder executivo, de forma que daria ampla liberdade para as  escolhas tomadas pelo presidente.

Campos Sales (1841 - 1913)

 

Campos Sales deveria conter o sistema federalista e submeter os interesses regionais ao  seu controle e, para isso, adotou a Política dos Governadores. Com a intenção de consolidar sua  política financeira, Sales precisava aumentar seu poder, impedir a fúria do Congresso e  controlar a opinião pública. O Congresso deveria ser dócil aos seus desígnios, portanto o poder  legislativo só aceitaria em seus quadros os deputados eleitos pelo partido dominante em seus  estados, deputados que tinham seu apoio alinhado e declarado ao presidente. Para conseguir  isso instaurou-se a chamada “degola”, que significa que se um deputado de oposição ao  governador local fosse eleito, este não seria diplomado e nem mesmo empossado. A eliminação da oposição acontecia por meio da chamada “comissão de reconhecimento de poderes” que  verificava quais dos deputados eleitos se alinhavam à situação, caso algum desses fosse de oposição, seria então “degolado”. Dessa forma o presidente conseguia o apoio necessário no  Congresso.  

No poder executivo federal na época da república velha o grupo oligárquico paulista  uniu-se às elites de Minas Gerais para manter as ações alinhadas aos seus interesses  econômicos, que era basicamente manter o Brasil como agroexportador na divisão internacional  do trabalho, já que entendiam que isso era o que o Brasil fazia de melhor e deveria continuar  fazendo. Dos onze presidentes eleitos diretamente na república velha, cinco foram paulistas,  três mineiros e dois de outros estados. Essa monótona sucessão de presidentes com apoio de  São Paulo, maior produtor de Café, e Minas Gerais, segundo maior produtor de café e primeiro  maior produtor de leite, ficou conhecida como política do café com leite.

https://conhecimentocientifico.com/politica-cafe-com-leite/

  

Na base do sistema estava a mecânica eleitoral excludente e corrupta. Apenas 6% da  população votava e ainda eram manipulados. Primeiro, pelo voto de curral, predominante no  interior onde o predominante poder dos coronéis agrupava os submissos eleitores para que  votassem em quem fossem ordenados, o voto não era secreto e os jagunços estavam lá para  garantir o bom andar das eleições. Segundo, pelo voto de cabresto, na cidade ou no campo, por  meio do voto comprado. E nas mesas eleitorais, os coronéis faziam votar fantasmas, ausentes e  mortos. Se algum coronel opositor da política dominante conseguisse eleger algum  representante ao Congresso, a degola dava um jeito depois.  

Rodrigo Alves, um advogado paulista, foi eleito com o apoio de São Paulo e Minas  Gerais, em 1902. Na medida em que o governo brasileiro conseguiria, com o funing loan,  consolidar o seu crédito nas praças financeiras europeias, a solução de Rodrigo  Alves foi tomar mais dinheiro emprestado e investir em obras públicas. As principais obras  realizadas no período entusiasmaram alguns partidários: construção de portos, ferrovias,  teatros, biblioteca, instalação de fábricas, compras de navios, etc. apesar disso, nada foi mais  marcante do que a reurbanização do Rio de Janeiro, a capital do país que era vista como atrasada  e com aspecto desorganizado. 

 

Rodrigo Alves (1848 - 1919)

As reformas da cidade do Rio de Janeiro poderiam ser feitas em qualquer governo,  porém a forma autoritária com que foi feita só poderia vir do governo de Rodrigues Alves. Na  administração de Pereira Passos, nomeado por Rodrigues Alves, se fez a abertura e alargamento  das ruas e praças, o saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas, remoção dos cemitérios, etc.  Antes da posse de Pereira Passos, Rodrigues fez aprovar uma lei especial, adiando as eleições  do conselho municipal, dando plenos poderes ao prefeito. A população pobre e de classe média foram desalojadas do centro, vendo o “bota abaixo” acontecer. Seus quiosques de vendas foram  destruídos e suas casas invadidas. Com o aumento dos aluguéis, a população se viu expulsa  para longe do seu local de trabalho. 


Oswaldo Cruz (1872 - 1917)

 

O médico sanitarista Oswaldo Cruz, nomeado para a diretoria de Saúde Pública, pôs em  prática um plano para combate à febre amarela, que simplesmente foi imposto à população, sem  o necessário esclarecimento a médio prazo. A vacinação obrigatória contra a varíola instituiu-se em outubro de 1904. Em 5 de novembro de 1904 foi fundada a Liga Contra a Vacinação. O verdadeiro caráter do movimento era contra o governo e suas medidas recentes: a população  não estava satisfeita, com asco e assustada. O dia 13 de novembro foi o mais combativo pois a  repressão policial foi mais incisiva. Nos dias seguintes a revolta popular tomaria outra dimensão  com a entrada de militares revoltosos que queriam derrubar o governo. 


https://www12.senado.leg.br/tv/programas/historias-do-brasil/2017/10/a-revolta-da-vacina-historias-do-brasil

 

Os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se sublevaram contra as  medidas do ministro da justiça J. J. Seabra. O objetivo era a tomada do poder através de um  golpe. O objetivo dos militares era derrubar Rodrigues Alves e pôr no lugar um governo militar.  Visavam o golpe de estado se aproveitando da revolta popular! Mas o presidente reagiu e, no dia 14, o general Travassos obteve cena vitoriosa, mas não foi decisiva essa vitória. Travassos  e Lauro Sodré, que estava como uma das lideranças da revolta da vacina, tombaram feridos em  novos combates. No dia 15 de novembro, quinze anos da República, Rodrigues Alves retomou  a ofensiva e mandou bombardear por navios de guerra a escola militar. Na manhã do dia 16 os  cadetes se renderam e, desta forma, o movimento popular ficou fácil de ser derrotado.


 

A grande problemática estrutural das constantes quedas de preços do café não havia sido  tratada de maneira mais sistemática e decisiva, igualmente o presidente Rodrigues Alves  recusou-se a desembolsar verbas da União para valorizar os preços do café. A solução para a  valorização do café foi dada de maneira federalista por um convênio entre os governadores dos  maiores produtores de café no Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, reunidos na  cidade paulista de Taubaté. Os governos estaduais comprometeram-se a comprar previamente,  por preço fixo, a safra prevista de café, desde que fosse limitada a área de plantio, isso para  evitar a superprodução.  

O preço do café iria aumentar, mas os eventuais prejuízos não atingiram os  cafeicultores, pela garantia da compra da safra: atingiria o conjunto da população, em mais um  mecanismo de socialização das perdas, comum aos estados capitalistas, mas agravado na  república oligárquica. Por fim, estava montado o mecanismo que faltava para assegurar o domínio das oligarquias, lideradas pela oligarquia paulista. A consolidação oligárquica permitiu  o sucesso superficial do regime, sucesso esse que foi excludente para a maioria da população.


https://escolaeducacao.com.br/convenio-de-taubate/

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