LULISMO: BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTE CONCEITO

Por Gabriel Rocha e Giovana Lima.

"Que ninguém, nunca mais, ouse duvidar da capacidade de luta dos trabalhadores" (Lula durante discurso no ano de 1979).

Crédito da Imagem: Neftali e Shutterstock.


O presente texto pretende fazer uma breve abordagem sobre o conceito lulismo levando em consideração que o governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003 -2010) foi favorecido pela estabilidade dada pelo Plano Real, incentivou exportações melhorando a balança comercial, teve a inflação sob controle, suspendeu as privatizações e incentivou o crescimento da produção industrial. Em seu governo observou-se, então, um maior poder de consumo que aqueceu as vendas no comércio e, consequentemente, a produção industrial, além de programas como Fome Zero e Bolsa Família bem como os programas ProUni e Sisu na educação. Entretanto, também foi um período marcado por denúncias de corrupção, ações coletivas que não estavam estruturadas numa práxis antissistema, anticapitalista ou antirracista, ou seja, essas ações não estavam de fato se organizando para promover uma mudança na estrutura da sociedade brasileira, a social democracia de Lula foi um solo fértil para o fascismo de Jair Bolsonaro pois quando acontece uma retração da economia, e essa retração reflete na percepção política, surge a figura do “herói” como sendo o único que pode resolver essas crises, como sendo o próprio “messias”.

A figura de Luís Inácio Lula da Silva surge no contexto da Ditadura Militar nos movimentos que se organizavam contra o regime, sendo muito presente nas greves sindicalistas, foi a principal figura do sindicalismo nos fins dos anos 70. Neste contexto Lula foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo chegando a ser preso enquadrado na Lei de Segurança Nacional, posteriormente seria um dos principais líderes na construção do Partido dos Trabalhadores. 

As greves e paralisações dos operários do ABC tinham por objetivo buscar o reajuste salarial de 78,1%, melhorias nas condições de trabalho com apoio   da igreja católica, de entidades civis, do MDB e de artistas famosos tendo como consequência o enfraquecimento ainda maior do regime militar e o surgimento de um polo aglutinador das forças de esquerda, fragmentadas durante a ditadura, em torno da CUT e do PT, que se tornaram elementos de organização extremamente influentes nas três décadas posteriores.

     A base do lulismo advém da confiança que a classe trabalhadora depositou no metalúrgico que na liderança de seu sindicato lutou contra as forças repressivas do regime militar, apesar de conseguir se eleger somente quando o seu discurso tornou-se também favorável para a classe dominante do país. Esse sentimento de devoção aumenta quando no decorrer de seu governo ele adota políticas públicas que ajudam a promover um estado de bem-estar social que aumenta o poder de consumir do trabalhador, ao passo que também favorece o mercado. 

Com isso, Lula terminou o seu segundo mandato com aprovação popular recorde. Pinheiro Machado e Scalco (2018) demonstram que após anos de politização popular, seja via movimentos socais seja via orçamento positivo, o lulismo se caracterizou pelo fortalecimento do Estado-gestor, pela gradual desmobilização das bases e pela adoção de políticas liberais de transferência de renda, tendo como marco o Programa Bolsa Família (PBF). O governo Lula (2003 – 2011) foi marcado pela inclusão financeira, especialmente via consumo, os pobres estavam andando de avião pela primeira vez ou comprando um novo celular foram celebrados como evidências da redução da desigualdade promovida pelas reformas do Partido dos Trabalhadores no século XXI (2018). Ainda houve mudanças no acesso ao ensino superior, aumento da chamada “classe média”, ao passo que a histórica invisibilidade e humildade dos “subalternos” se transmutou em orgulho e autoestima tanto no nível individual, como de classe.

Apesar de representar os governos populares que o Brasil teve após a sua redemocratização, os governos de Lula não mexeram na estrutura da sociedade brasileira, seja no sentido de reforma agrária, seja no sentido de mudança profunda na educação ou até mesmo na expansão da indústria nacional. O próprio programa Ciência Sem Fronteiras leva os pesquisadores para fora do Brasil ao invés de fornecer uma estruturação para pesquisarem de maneira nacionalista, trabalhando pelo bem da sociedade brasileira, gerando riqueza e distribuição de riquezas para o próprio país. Esse é o sentido antagônico do período lulopetista, marcado pela “conservação e mudança, reprodução e superação, decepção e esperança num mesmo movimento”, de forma que o lulismo foi incapaz de promover transformações estruturais 

A inclusão financeira no mercado neoliberal, por ser um processo altamente contraditório, produzia seus efeitos políticos colaterais não esperados pois a economia de mercado que queria o dinheiro desses novos consumidores certamente não iria permitir uma transformação social com práxis revolucionária, correspondendo aos interesses de uma classe reacionária e conservadora, além de atrasada, como é a elite brasileira. Então, houveram erros políticos,  fragilidade ideológica e  deslizes morais do PT, logo o partido que se julgava qualificado para renovar a política e reinventar a democracia brasileira, cedeu a munição necessária para a imprensa conservadora além de com isso estimular a extrema direita a buscar novamente uma intervenção militar, fazendo com que essa esfera da sociedade nostálgica do período militar se torne a base da construção eleitoral de Jair Bolsonaro (2015). O presente texto visou trazer breves concepções sobre esse contexto político, econômico e social do Brasil, sobre o lulopestimo, levando em consideração que há diversas outras questões passíveis de serem expostas sobre esse tema.




REFERÊNCIAS


MACHADO, Rosana Pinheiro; SCALCO, Lucia Mury. Da esperança ao ódio: Juventude, política e pobreza do lulismo ao bolsonarismo. Cadernos IHUideias, v. 16, n. 278, p. 3 - 13, 2018. 


NAPOLITANO, Marcos. Recordar é vencer: as dinâmicas e vicissitudes da construção da memória sobre o regime militar brasileiro. Antíteses, , v. 8, n. 15esp., p. 09-44, nov. 2015. 


SINGER, André Vitor. Os Sentidos do Lulismo: reforma gradual e pacto conservador. São Paulo: Campanhia das Letras, 2012.


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