Peru


Postagem adaptada da apresentação de Camila Geissler, Denilton G. A. da Rocha e Luiza Avanci, alunos do curso de História, Universidade Estadual do Paraná – Paranavaí, em 11/12/2019. Trabalho apresentado à disciplina História da América.  

Dados Gerais
      Nome oficial: República del Peru
   Localização: América do Sul, em sua porção oeste. Banhado pelo oceano Pacífico Sul. Faz fronteira ao norte com Equador e Colômbia, a Leste com Brasil e Bolívia, e ao sul com o Chile.
   Idiomas: Espanhol, quíchua, aimará (oficiais), ashaninka, outras línguas indígenas e outras (incluindo estrangeiras) (2007).
      Moeda: Novo Sol.
      Capital: Lima.
      População: 29.262.830 hab. (2010).
     Religiões: Católica romana (81,3%); evangélica (12,5%); outras (3,3%), nenhuma (2,9%) (2007).
      Estado e Governo: República presidencialista.
    Eleições: Presidente eleito por sufrágio universal a cada 5 anos. Legislativo unicameral composto do Congresso da República com 130 membros, eleitos por sufrágio universal para um mandato de 5 anos. primeiro-ministro não exerce poder executivo. conselho de ministros nomeado pelo presidente.

O Peru é um dos países mais pobres da região, com uma população que, em 1950, era de 7,98 milhões e chegou a mais de 26 milhões de habitantes em 2005. Em 1994, só 17% do total da população manifestou ter uma língua indígena como materna. O abarrotamento da capital deve-se à migração de todo o resto do país desde meados do século XX, a fim de escapar da miséria. Aquela Lima antevista, nos anos 1960, por Sebastian Salazar Bondy como horrível tornou-se pior: uma babilônia colossal, onde “todos os sangues” se misturaram sem coerência ou rumo, e de onde surgiram expressões culturais, formas religiosas, normas de comportamento e maneiras de falar absolutamente peculiares.

Processos, crises, ditadura e guerras peruanas
            O Peru, na segunda metade do século XX, foi o cenário de uma série de processos insólitos. A ditadura militar do general Manuel Apolinario Odría (1948-1956) terminou com a ambígua democracia do advogado José Bustamante Rivero, que concentrou o poder em um reduzido círculo de poderosos, iniciando um regime oligárquico. O que ocorreu em Cuba, em 1959, foi uma fonte de inspiração para os rebeldes peruanos, sendo o padrão no Peru do século XX: a recessão seguida de protestos sociais, seguidos de expansão, seguida de crise na balança de pagamentos. Também era um típico ciclo populista, conhecido em todo o hemisfério.
            A Lei do Desenvolvimento Industrial 13.270(1959), previu um mecanismo de absorção da mão de obra migrante e de promoção de reforma agrária, sugerida por Pedro Beltrán, proprietário do importante jornal La Prensa e chefe dos conservadores. “O inimigo, agora, não era apenas externo, mas estava na própria casa, e era preciso combatê-lo”. Ante o fracasso dos civis, era necessário evitar desfechos mais perigosos, com as guerrilhas e os movimentos camponeses do início dos anos 1960. A Junta Militar que depôs o presidente Manuel Prado, em 1962, mostrou simpatia a essas iniciativas, ante o temor de uma ruptura institucional mais drástica, e apadrinhou o primeiro governo de Belaúnde.
            O governo de Belaúnde não agradou a Junta Militar e a expansão da insurreição camponesa, implicaram no retorno das Forças Armadas ao controle do Estado em outubro de 1968. Uma vez no governo, os militares adotaram um conjunto de medidas para derrubar o controle do capital estrangeiro com um programa de nacionalização de suas empresas, ao mesmo tempo que buscaram a eliminação do poder do capital privado nacional por meio de uma reforma agrária radical e a expropriação dos meios de comunicação.
            Há consenso suficiente para reconhecer que, por mais precárias que tenham sido, tais políticas modificaram a ordem quase colonial de antes. Os latifundiários desapareceram do campo; as piores formas de exploração dos trabalhadores rurais foram suprimidas. A retórica nacionalista para além da propaganda, o reconhecimento do quíchua como idioma nacional e uma política exterior soberana abriram novos horizontes para muitos.
Democracia – 1980
A passagem para a democracia, no final da segunda fase do governo militar, devia ser organizada e com garantias suficientes para que o desmonte das reformas implementadas por Morales Bermúdez não gerasse retrocesso. Foi eleito, em 1985, o jovem e carismático Alan García Pérez, levando pela primeira vez seu partido, o APRA, ao poder.
O que foi a APRA?
A Aliança Popular Revolucionária Americana, também conhecido como APRA ou PAP (sigla de Partido Aprista Peruano) é um movimento político originalmente projetado à nível continental, de centro-esquerda e membro da Internacional Socialista. O APRA foi fundado em 1924 por Víctor Raúl Haya de la Torre, cujo ideal era trazer igualdade social ao Peru e, em seguida, à América Latina. Até o começo de 2019, o principal líder aprista era Alan García, um dos mais conhecidos discípulos de Víctor Raúl Haya de la Torre. Os membros deste partido são popularmente conhecidos como Apristas, em referência à sigla 'APRA'.
O APRA é um partido populista com 3 características específicas: Primeira: seu estilo vertical de mobilização foi dominado por líderes carismáticos, paternalistas e personalistas; Segunda: o populismo apelou para a coalizão multiclassista, apoiada nos pobres, mas dirigida por setores dos estratos médios a altos. Terceira: ideologias ecléticas, nacionalistas, estatistas. Os programas reformistas deram lugar à promoção da industrialização e do bem-estar social.
A estrutura heterogênea do movimento gerou, também, fricção entre grupos, especialmente entre as classes média e trabalhadora, ainda mais quando o partido chegou ao poder. Pela mesma razão, o compromisso para unir industrialização e redistribuição implica renúncias e dilemas. Economias dependentes, atingidas por déficits de capital e inflação, têm excedentes insuficientes para aplacar demandas em conflito. Consequentemente, a maioria dos movimentos populistas provou ser mais efetiva na mobilização do que na institucionalização, com mais êxito para inflamar as massas do que para governar em seu proveito.

O Sendero Luminoso
No início da década de 1980, começou a explodir nova tempestade social, com a expansão do Sendero Luminoso. Suas origens remontam a 1971, como resultado de uma das tantas divisões do Partido Comunista do Peru. Seu principal líder foi Abimael Guzmán Reynoso, filósofo formado na Universidade de Arequipa. Facínoras que usaram o nome do comunismo – no caso, o maoísmo– para promover carnificinas e oprimir o povo.
A expansão inicial do Sendero durante 1980 e 1982 nas regiões de Ayacucho e de Apurímac, no sul peruano, foi rápida e contou com o respaldo de fatias importantes da população rural e urbana. Não era diferente dos grupos da esquerda radical que agitavam as universidades, embora suas propostas e críticas aos adversários se diferenciassem pelo radicalismo. O objetivo traçado era a destruição do imperialismo, do capitalismo burocrático e da propriedade feudal. Essas seriam as primeiras tarefas da revolução peruana, visando se tornar uma república popular com nova democracia, que depois se transformaria em uma revolução socialista, para finalmente chegar ao comunismo, mediante revoluções culturais.
A construção da república popular da nova democracia só poderia advir de uma violenta guerra revolucionária conduzida pelo exército guerrilheiro popular. Uma das mais impactantes histórias em quadrinhos lançadas este ano no Brasil, vem à luz uma organização que se impõe pela força bruta e na qual não se vislumbra nada de positivo ou “humanista”. Liderados pelo professor universitário Abimael Guzmán, o “presidente Gonzalo”, com uma ideologia confusa, que ao longo de mais de uma década os senderistas mantiveram os camponeses do país aterrorizados sob a desculpa de protegê-los. O Estado peruano, por sua vez, também sob a desculpa de proteger o povo das ações do Sendero, seria responsável pelas mais bárbaras violências contra cidadãos inocentes, mulheres e crianças: estupros, enforcamentos, execuções sumárias, chacinas.

Peru X EUA

INVESTIMENTO DE CAPITAL NORTE AMERICANO

O Peru começou sua história de país independente com uma população estimada em 1 milhão e 200 mil habitantes, metade dos quais era indígena, além de cerca de 500 mil negros. Sua base demográfica era, portanto, débil(enfraquecida), apesar de as acentuadas quedas de população do início do período colonial terem cessado no século XVIII. A estabilidade da “república aristocrática” (1895-1919) foi ameaçada algumas vezes.
Primeiramente em 1914, quando um golpe de Estado depôs o presidente Guillermo Billinghurst, que, desde sua eleição dois anos antes, vinha desenvolvendo uma inusitada política “populista”. E, posteriormente, quando um estranho a essa classe, como foi dom Augusto Bernardino Leguía, decidiu fazer do Peru uma “pátria nova”, por meio do desenvolvimento de obras públicas, da construção de estradas (política de “recrutamento viatório”, eufemismo que disfarçava a utilização compulsiva e gratuita da mão de obra indígena), abrindo mercados e apelando à injeção maciça de capitais norte-americanos.
Em termos econômicos, as exportações foram dinâmicas devido à presença do açúcar, do algodão (semeados em áreas agrícolas cada vez maiores, devido à expansão de sua fronteira com as políticas de irrigação), do cobre, do petróleo e do impulso derivado de pesados investimentos de capital norte-americano. Mas essa bonança estava sujeita ao desempenho do mercado e do capital internacional, de modo que uma inflexão negativa era tanto mais dramática quanto maior seu grau de exposição. Com esse novo papel dos Estados Unidos, no final da década de 1920, 50% das exportações eram produzidas por empresas sob o controle de capitais norte-americanos, que financiava 56% do gasto público. Além dos capitais, seus mercados eram igualmente decisivos, absorvendo dois terços das destinações peruanas e abastecendo os mercados do Peru em uma proporção similar.
A entrada de capital dos EUA permitiu a expansão da mineração devido ao uso de novas tecnologias, mas deixou essa área do país para trás porque os lucros dessa operação foram para os Estados Unidos. Além disso, o Estado Peruano não regulamentou esse setor(mining), o que permitiu que essas empresas fizessem o que quisessem. Como resultado, a taxa interna de retorno da Cerro de Pasco Copper Corporation foi de 55%, superior à das três empresas chilenas de cobre que atingiram apenas 35%.
Quando as minas foram exploradas por empresários locais, o dinheiro dos lucros foi reinvestido na região, na produção e comércio agrícola da região. Impulsionando até o cultivo de café na selva peruana. Quando os americanos chegam, os lucros não retornam, mas, apesar disso, há dinheiro suficiente para gerar produção e comércio, provocando a criação de uma nova elite regional no centro do Peru, composta por mineiros, proprietários de terras e comerciantes.
Em 1970, no Alto Huallaga, surgiu uma zona próspera no cultivo da coca, planta que havia sido semeada pelos camponeses dos Andes como resultado da colonização iniciada na década anterior. A prosperidade da região esteve estreitamente associada à expansão do consumo da cocaína nos Estados Unidos e teve como resultado o incremento das áreas semeadas, que passaram de 28 mil hectares em 1980 para 211 mil em 1988. Dessa produção, direta ou indiretamente, participaram entre 300 mil e 400 mil trabalhadores, cerca de 5% da população economicamente ativa. O Peru é um dos principais produtores de coca para a fabricação da cocaína, cujo valor anual é de aproximadamente 1,2 bilhões de dólares – quase a metade das exportações legais.
Nas relações internacionais, a maior parte dos acordos comerciais foi assinada com os Estados Unidos (com quem o Peru estabeleceu um tratado de livre-comércio), com a União Europeia e com a China. Tais parcerias respondiam por cerca de metade das exportações peruanas e, na maioria dos casos, os produtos exportados se limitavam a commodities (matérias primas essências de base para indústria) metálicas, pescados e petróleo bruto, sinal de uma economia pouco industrializada.
De tal modo, compreende-se que a produção peruana ainda é basicamente agrária e voltada para a exportação.

O Peru
O Peru é o lar de grandes artistas. Dentre eles, Nicomedes Santa Cruz (Peru, 1925-2002), é poeta e cantor percursor na difusão dos ritmos afro-peruanos. Seus poemas em décimas e cantos ao som do “cajon peruano” trazem um conteúdo de crítica ao sistema colonialista e latifundista no Peru.
Aqui anexo um link para conhecer e admirar um de seus trabalhos: https://www.youtube.com/watch?v=GOKBl8s5QiU

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