O olhar do colono estrangeiro sobre tentativa dos cafeeiros de iniciar o trabalho livre na Segunda Regência do Império Brasileiro

"Os colonos que emigram, recebendo dinheiro adiantado, tornam-se, pois, desde o começo, uma simples propriedade de Vergueiro & Cia. E em virtude do espírito de ganância [...]  que anima numerosos senhores de escravos, e também da ausência de direitos em que costumam viver esses colonos na província de São Paulo, só lhes resta conformarem-se a ideia de que são tratados como simples mercadorias, ou como escravos." (DAVATZ, Thomas. 1980).

Litografia da fazenda Ibicaba

A transição do período escravocrata para abolição da escravidão é marcada por uma tentativa de trabalho livre intitulado sistema de parceria, que consistia em um tipo de acordo, onde o proprietário de terras pagava a passagem e parte dos custos dos estrangeiros e estes pagariam essas despesas ao longo de meses, com trabalho. Esse método foi abordado por nós através da obra Memorias de um colono no Brasil, que expõe relatos vividos por imigrantes suíços no trabalho de lavouras de café na famosa fazenda Ibicaba, escritos por Thomas Davatz.


Cafezal da fazenda Ibicaba, uma das primeiras a adotar o sistema  de parceria com imigrantes.
Henrique Manzo, óleo sobre tela, Museu Paulista/USP
O centro do sistema de parceria foi proporcionado pelo senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro diante da decisão de proibição do comércio de escravos entre a África e a América em 1845, e a pressão britânica, aumentando assim o preço dos escravos africanos. Então passou-se a buscar alternativas para mão-de-obra, sendo uma delas o sistema criado na Fazenda Ibicaba, em Limeira (SP), em que europeus foram convidados a se mudar ao Brasil para trabalhar. Essa iniciativa do senador Vergueiro cooperou para que os fazendeiros acreditassem na substituição da mão de obra escrava pela livre, importando grande quantidade de imigrantes para a lavoura do café, principalmente no final do século XIX.  Contudo, os proprietários de terras estavam habituados ao regime escravocrata, tornando a tentativa de trabalho livre não muito diferente da atividade escrava. Desta forma, milhares de estrangeiros que chegaram ao Brasil para trabalhar nas fazendas de café acabaram se transformando em "escravos brancos", ou seja, o trabalhador estrangeiro se tornava uma espécie de refém do sistema, criando uma grande e progressiva dívida com o contratador.

"O emprego de imigrantes europeus na grande lavoura em lugar de negros envolvia uma verdadeira revolução nos métodos de trabalho vigentes no país e, mais do que isso, nas concepções predominantes em todo o império acerca do trabalho livre." (DAVATZ, Thomas. 1980)

Sede da fazenda Ibicaba.  Álbum de José Vergueiro - Acervo Dra. Lotte Kohler (Munique)

Por conta disso, os colonos suíços se rebelaram em uma revolta conhecida como Revolta de Ibicaba, no ano de 1856, contra a exploração do trabalho pelos senhores brasileiros, que haviam optado pelo sistema de parcerias em substituição à escravidão deixando claro o desagrado dos colonos estrangeiros, esse também seria um primeiro sinal dos problemas que o modelo de produção poderia enfrentar. Até o fim dos anos 1870, o sistema havia terminado diante dos problemas e conflitos que gerava. 
Sérgio Buarque de Hollanda apontou até que o sistema pode ter fracassado por conta de os fazendeiros “não entenderem as finalidades do trabalho livre”, por causa da longa tradição escravocrata. O historiador brasileiro traduziu nos anos 1950 a obra de Thomaz Davatz, e ponderou em sua obra que parte da “desilusão” dos suíços estava relacionada com o fato de a promessa de se transformarem em proprietários não ter vingado. 

A partir dos relatos escritos por Davatz, criticando o tratamento concedido aos colonos, esse clima de tensão ecoou e contribuiu para a decadência do sistema de parceria. A rebelião fomentou matérias positivas e negativas, ocupando espaço nas primeiras páginas dos jornais suíços e germânicos. Devido sua repercussão na Europa, esse sistema foi sendo gradualmente abandonado, chegando a desaparecer na década de 1870.



Referências: DAVATZ, Thomas. Memórias de um colono no Brasil (1850). Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1980.

Comentários

  1. Parabéns ao grupo pela pesquisa concluída, pelo Layout da página e a brilhante reflexão do grupo postado em Podcast na fala de Mariana de Barros...

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  2. Isso ae mana, assisti no canal History O Barão de Mauá (Ele era brasileiro). O império português se considerava dono de tudo aki no Brasil naquele tempo, a via férrea SP a Santos foi o barão Mauá q tocou toda obra, no final o império fez uma manobra e tomou dele!!
    Somos um povo Guerreiro e a verdade sempre vai prevalecer através da história!!
    Somos um

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